domingo, 17 de janeiro de 2010

O avô Lilo e a avó Lila

Chama-se Carmim, mas todos o tratamos de Lilo. A minha avó chamava-se Ilda e nenhum dos 11 netos sabia dizer o seu nome. Ficou a avó Lila e o avô Lilo. Um casal único. Ela, sempre de unhas bem arranjadas. Compridas e pintadas de vermelho. Ía todas as tardes à bica, fumava um cigarro e dava gargalhadas altas. Adorava uma bela festarola. Era a primeira a chegar e a última a sair. Assim era a minha avó Lila. Morreu contrariada, cheia de vontade de viver. Ele, perdão o avô,quando trabalhava só saía de casa porque tinha de ser. Ainda hoje é, mais ou menos assim, só sai de casa para ir ao médico, às compras ou porque tem de tratar de algum assunto. Mergulha nos livros e ouve música clássica. Adora fado, mas está sempre a par das últimas novidades. Não vê novelas, prefere os documentários e o telejornal, mas sabe os nomes dos programas todos, dos actores, dos apresentadores. E até sabe quem são os D'ZRT. Tem 86 anos.Faz 87, no próximo mês. Vive sozinho e as três filhas que não se atrevam a invadir o seu espaço. Elas sabem disso. Há um mês teve um enfarte. Na sexta-feira, foi operado e já passou o fim-de-semana em casa, sozinho. Ficou nervoso só com a ideia de uma das filhas se convidar para ficar lá em casa. Quero ser assim como ele. Independente.

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